segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O Tribunal do coração


Havia uma mulher caída, dessas mulheres perdidas que não respeitam a si próprias e de reputação questionável que vivia em frente a um Templo de Kali. Um Sadhaka Tantriko que vivia no Templo certo dia veio até ela e disse: "Você está vivendo uma vida desprezível. Escrava de seus vícios, mulher fraca, rastejante e sem valor. Desejo fazer com que você veja o seu monte de pecados. Assim, para cada visitante seu, eu colocarei aqui, uma pedra." Dito e feito. Plantou-se na sacada do Templo e observou quem entrava e saía da casa. Como se não bastasse, o sadhaka uniu-se a uma inimiga feroz daquela mulher, e que alimentava o veneno em sua alma, dizendo que além de servir aos homens, ainda ousava se auto-engrandecer buscando disputas judiciais por supostas injustiças, e difamando-a mais e mais, afirmava que a mesma consumia bebidas alcoólicas, era tabagista "aquela arrogante" e portanto, merecia viver num anonimato vilipendioso. 

Cumprindo sua promessa, cada vez que vinha um visitante, ele colocava uma pedra. E a mulher clamava em seu coração: "Oh, Mãe Divina, vós ireis me perdoar? Meu destino é determinado segundo meu prarabdha-karma! Que mais posso fazer de minha existência? Não sei evitar, não tenho outra sorte. Olhai todas aquelas pedras..." Enquanto isso, o Sadhaka Tantriko no Templo dizia: "Que mulher abominável. Olhe o monte de pecados que ela está acumulando!"

E por muitos anos eles mantiveram o mesmo comportamento até que uma montanha de pedras de pecados se formou. A mulher estava totalmente atormentada e dizia constantemente em oração, "Mãe Divina, por favor perdoe-me, concede-me outro destino, desejo a Ti." A providência Divina enviou um carro que a atropelou e a matou. Todos da comunidade disseram, "Que alívio! Todos aqueles pecados agora se irão de nossa comunidade!!"

Coincidência ou não, aconteceu que o Sadhaka Tantriko também faleceu no mesmo dia enfartado. Eles atiraram o corpo da mulher para fora da cidade e foi dilacerado e devorado pelos cães. O corpo do Sadhaka foi colocado em uma maca, envolvido por pura seda e coberto com flores. Com músicos marcharam pela cidade conduzindo o corpo aos ghats e o incineraram com madeira de sândalo. 

Sua alma foi ao céu, e a Mãe Divina disse: "O que está fazendo aqui? Você não pertence a este lugar." Ao que o sadhaka respondeu chocado: "Mas eu vivi num Templo." Então, a Mãe Divina disse-lhe: "Seu corpo viveu no Templo, mas a sua mente estava constantemente na prostituta. Ela está nas mansões de Indra, porque embora seu corpo estivesse envolvido em atos irreligiosos, sua mente estava constantemente pedindo perdão, portanto ela está no lugar celestial. Para você está reservado voltar agora mesmo e renascer no corpo de uma prostituta para aprender o que é a dor de um apedrejamento.”

Gosto muito de histórias, e essa é oportunamente especial e inspirada numa história dos sadhus da Índia, e serve como alegoria para todos os que julgam as criaturas, assumindo o papel de promotor, juiz e... sentença.

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