segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Heróis Heroes Helden



Então, eu sou Rei e você a Rainha
Embora ele pareça invencível
Nós nos transformamos em heróis por um dia...


Apocalyptica.

Fingi ser gari por 8 anos e vivi como um ser invisível

Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado da 'invisibilidade pública'. Ele comprovou que, em geral, as pessoas enxergam apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado sob esse critério, vira mera sombra social.

Plínio Delphino, Diário de São Paulo.

O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou oito anos como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali, constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são 'seres invisíveis, sem nome'. Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu comprovar a existência da 'invisibilidade pública', ou seja, uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa. Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário de R$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição de sua vida:






'Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência', explica o pesquisador.

O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como um ser humano. 'Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão', diz.

No primeiro dia de trabalho paramos pro café. Eles colocaram uma garrafa térmica sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinha caneca. Havia um clima estranho no ar, eu era um sujeito vindo de outra classe, varrendo rua com eles. Os garis mal conversavam comigo, alguns se aproximavam para ensinar o serviço. Um deles foi até o latão de lixo pegou duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pela metade e serviu o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a gente estava num grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro. Eu nunca apreciei o sabor do café. Mas, intuitivamente, senti que deveria tomá-lo, e claro, não livre de sensações ruins. Afinal, o cara tirou as latinhas de refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tem barata, tem de tudo. No momento em que empunhei a caneca improvisada, parece que todo mundo parou para assistir à cena, como se perguntasse: 'E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?' E eu bebi. Imediatamente a ansiedade parece que evaporou. Eles passaram a conversar comigo, a contar piada, brincar.

O que você sentiu na pele, trabalhando como gari?
Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central. Aí eu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo andar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei na biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, passei em frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz todo esse trajeto e ninguém em absoluto me viu. Eu tive uma sensação muito ruim. O meu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angustia, e a tampa da cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui almoçar, não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado.

E depois de oito anos trabalhando como gari? Isso mudou?
Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também a situações pouco saudáveis. Então, quando eu via um professor se aproximando - professor meu - até parava de varrer, porque ele ia passar por mim, podia trocar uma idéia, mas o pessoal passava como se tivesse passando por um poste, uma árvore, um orelhão.

E quando você volta para casa, para seu mundo real?
Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em que você está inserido nessa condição psicossocial, não se esquece jamais. Acredito que essa experiência me deixou curado da minha doença burguesa.

Esses homens hoje são meus amigos. Conheço a família deles, freqüento a casa deles nas periferias. Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador. Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe.

Eles são tratados pior do que um animal doméstico, que sempre é chamado pelo nome.

São tratados como se fossem uma 'COISA'.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Como seria o futuro de acordo com os escritores do passado?

Escritores de dois séculos atrás já faziam previsões de como viveríamos nos dias de hoje. Porém, nem todos os palpites foram acertados.

Por Fernando Daquino em 18 de Setembro de 2012

É comum vermos tecnologias revolucionárias e futuristas em filmes e séries. Inclusive, nós já fizemos artigos mostrando alguns aparatos que surgiram nas telonas do cinema e foram criados no mundo real ou estão no caminho de se tornar realidade – como nos casos de “Caprica”, “O Demolidor” e “Eu, robô”.

Contudo, muitos anos antes das produções cinematográficas ganharem popularidade, os escritores de até dois séculos passados já exploravam a criatividade para estipular previsões de tecnologias do futuro. Neste artigo, nós selecionamos alguns dos autores mais conhecidos e renomados de todos os tempos e algumas de suas respectivas visões tecnológicas.
 
Isaac Asimov

Considerado um dos três maiores escritores de ficção científica, Isaac Asimov era um especialista em bolar novos aparelhos que pudessem tornar nossas vidas mais práticas. Ainda em vida, o escritor e bioquímico nascido na Rússia em 1920, mas que se naturalizou estadunidense, era visto como um homem que estava à frente de sua época.

Entre as suas obras, Asimov descreveu computadores com dimensões gigantescas no seu conto “A última pergunta”. Nesse texto, o escritor imagina um PC chamado Multivac que foi sendo desenvolvido ininterruptamente até que atingisse proporções planetárias e com características de transcendiam os componentes de hardware e alcançavam a plena forma de energia pura no ano de 2061.

Embora ele estivesse “errado” sobre a evolução das máquinas em sua predição, não podemos condená-lo, já que os primeiros PCs eram imensos – chegando a ocupar salas inteiras. Assim, o raciocínio na época era que, para ficarem mais potentes, os computadores precisariam aumentar de tamanho.

Isaac Asimov também ficou muito conhecido por criar as chamadas Leis da Robótica em seu livro “Eu, robô” – o qual mais tarde deu origem ao filme estrelado por Will Smith. As diretrizes são:
  •     Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal;
  •     Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei; e
  •     Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e Segunda Leis.

H.G. Wells






Em “A Máquina do Tempo”, que teve sua primeira edição lançada em 1895, o escritor inglês H.G. Wells aborda a história de um homem, conhecido apenas como O Viajante do Tempo, que usa conceitos matemáticos e físicos para criar uma máquina capaz de se locomover pelo o que ele chama de “Quarta Dimensão”.

Apesar de esse não ser o primeiro relato de uma máquina que pode realizar viagens temporais, essa obra é até hoje lembrada como a primeira menção de uma tecnologia do gênero. Se por um lado, por enquanto, a previsão de Wells não se concretizou, o autor conseguiu vislumbrar as cidades cheias de arranha-céus – construções jamais vistas naquele período.

Dando uma breve escapulida do mundo tecnológico, é importante salientar que H.G. Wells também fez suas previsões políticas e sociais. Em uma delas, ele supôs grandes e duradouros confrontos entre os países europeus – fato que nós conhecemos como as Guerras Mundiais. O seu único equívoco está na data em que esses conflitos aconteceriam: 1966.
 
Arthur C. Clarke





A tendência dos video games nos últimos anos é de consoles com suporte para sensores de movimento, e o próximo passo para muitos especialistas da área é a adoção da realidade aumentada para incrementar a nossa interação com esse tipo de tecnologia.

Saiba você que esse tipo de equipamento foi pensado em 1956 por Arthur C. Clarke no seu livro “A Cidade e as Estrelas”. O enredo dessa obra acontece em um futuro longínquo e é desenrolado por um jovem de Diaspar, a última cidade habitada por humanos. Esse local está em um deserto, completamente cercado por muros e controlado por máquinas.

Em algumas de suas passagens, o texto revela um aparelho com o qual os moradores de Diaspar são capazes de vivenciar uma experiência de vida paralela, como se estivessem assumindo o papel de um personagem dentro de um jogo ou filme. Tal dispositivo era usado para o entretenimento da população.

Clarke também teve participação na criação do longa-metragem “2001: Uma Odisseia no Espaço”, de 1968, no qual alguns dos personagens seguram aparelhos portáteis em suas mãos para ler notícias. Hoje, fazemos algo muito parecido com os e-readers e os tablets.
 
Aldous Huxley





Aldous Huxley foi um escritor britânico admirado entre as décadas de 20 e 60. A sua morte, que ocorreu no dia 22 de novembro de 1963, foi ofuscada pelo assassinato de John F. Kennedy, então presidente dos EUA. Todavia, as suas previsões do futuro ainda são motivo de muita controvérsia.

No livro “Admirável Mundo Novo”, aquele que talvez seja o seu maior clássico, o escritor descreve uma sociedade na qual as pessoas têm os seus códigos genéticos manipulados. Dessa forma, a humanidade é pré-condicionada biologicamente e psicologicamente para que viva em plena harmonia com as leis e as regras sociais.

Embora a ideia levantada por Huxley possa parecer absurda para algumas pessoas, já existem laboratórios e clínicas de fertilidade que consegue realizar uma seleção dos traços que determinam a cor dos olhos e dos cabelos e uma varredura que busca doenças genéticas sérias em fetos. E essa não é a única situação relatada pela ficção científica que está se tornando realidade.
 
Júlio Verne





O escritor francês Júlio Verne é considerado por diversos críticos literários como o precursor da ficção científica, tendo algumas das obras mais traduzidas até hoje. Tal notoriedade não veio ao acaso. O autor possui uma infinidade de predições tecnológicas que muitos anos depois vieram a ser colocadas em prática – não exatamente como ele havia pensado, é claro.

Uma das tecnologias vislumbradas por Verne foi o submarino, que apareceu no seu livro “Vinte Mil Léguas Submarinas”, publicado em 1870 – época em que navegar pelos oceanos só era possível com barcos a vela ou a vapor. Algumas pequenas incursões abaixo do nível do mar já haviam sido feitas com equipamentos arcaicos, mas toda elas sem sucesso.

O Náutilus, como foi batizado o meio de transporte subaquático na obra, funcionava apenas com energia elétrica e era completamente autônomo em relação aos meios terrestres. O capitão Nemo e toda a sua tripulação utilizam apenas os recursos oferecidos pelo mar para sobreviver – inclusive para gerar a eletricidade necessária para manter o submarino em funcionamento.

O que mais impressiona nessa história é que Verne acerta inclusive o uso do ar em compartimentos específicos para controle da submersão e imersão e outros aparatos usados pelos tripulantes – como baterias recarregáveis, armas que usam o ar comprimido para disparar arpões e até sistemas de purificação do ar.

A obra foi tão inspiradora para os cientistas que o primeiro submarino nuclear foi batizado de USS-Nautilus. E isso não foi tudo o que Júlio Verne previu: ele ainda aborda máquinas voadoras e viagens à Lua.






Outra passagem de extrema relevância apontada pelo livro “Paris no século XX” é a presença de algo parecido com a internet. Note que a obra foi escrita em 1863, embora tenha sido publicada apenas em 1989, após ter sido encontrada por um bisneto do escritor francês.

Nesse romance, Verne fala sobre uma espécie de sistema de telégrafos interligados por todo o planeta. Essa rede telegráfica cobriria toda a superfície terrestre e poderia até passar pelo fundo do mar. Décadas mais tarde, viríamos a conhecer uma rede capaz de compartilhar informações sem limites geográficos e que precisaria ter sua infraestrutura cruzando oceanos.

Fonte: Tecmundo

Kitara, a primeira guitarra digital


quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Eis o perigo de mexer com pessoas inteligentes....





Eis o perigo de mexer com pessoas inteligentes....
O humorista Danilo Gentili postou a seguinte piada no seu twitter:
"King Kong, um macaco que, depois que vai para a cidade e fica famoso, pega uma loira. Quem ele acha que é? Jogador de futebol?"
A ONG Afrobras se posicionou contra: "Nos próximos dias devemos fazer uma carta de repúdio. Estamos avaliando ainda uma representação criminal", diz José Vicente, presidente da ONG. "Isso foi indevido, inoportuno, de mau gosto e desrespeitoso. Desrespeitou todos os negros brasileiros e também a democracia. Democracia é você agir com responsabilidade" , avalia Vicente.
Alguns minutos após escrever seu primeiro "twitter" sobre King Kong, Gentili tentou se justificar no microblog:
"Alguém pode me dar uma explicação razoável por que posso chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa, mas nunca um negro de macaco?" (GENIAL) "Na piada do King Kong, não disse a cor do jogador. Disse que a loira saiu com o cara porque é famoso. A cabeça de vocês é que têm preconceito."
Mas, calma! Essa não foi a tal resposta genial que está no título, e sim ESTA:
"Se você me disser que é da raça negra, preciso dizer que você também é racista, pois, assim como os criadores de cachorros, acredita que somos separados por raças. E se acredita nisso vai ter que confessar que uma raça é melhor ou pior que a outra, pois, se todas as raças são iguais, então a divisão por raça é estúpida e desnecessária. Pra que perder tempo separando algo se no fundo dá tudo no mesmo?
Quem propagou a ideia que "negro" é uma raça foram os escravagistas. Eles usaram isso como desculpa para vender os pretos como escravos: "Podemos tratá-los como animais, afinal eles são de uma outra raça que não é a nossa. Eles são da raça negra".
Então quando vejo um cara dizendo que tem orgulho de ser da raça negra, eu juro que nem me passa pela cabeça chamá-lo de macaco, MAS SIM DE BURRO.
Falando em burro, cresci ouvindo que eu sou uma girafa. E também cresci chamando um dos meus melhores amigos de elefante. Já ouvi muita gente chamar loira caucasiana de burra, gay de v***** e ruivo de salsicha, que nada mais é do que ser chamado de restos de porco e boi misturados.
Mas se alguém chama um preto de macaco é crucificado. E isso pra mim não faz sentido. Qual o preconceito com o macaco? Imagina no zoológico como o macaco não deve se sentir triste quando ouve os outros animais comentando:
- O macaco é o pior de todos. Quando um humano se xinga de burro ou elefante dão risada. Mas quando xingam de macaco vão presos. Ser macaco é uma coisa terrível. Graças a Deus não somos macacos.
Prefiro ser chamado de macaco a ser chamado de girafa. Peça a um cientista que faça um teste de Q.I. com uma girafa e com um macaco. Veja quem tira a maior nota.
Quando queremos muito ofender e atacar alguém, por motivos desconhecidos, não xingamos diretamente a pessoa, e sim a mãe dela. Posso afirmar aqui então que Darwin foi o maior racista da história por dizer que eu vim do macaco?
Mas o que quero dizer é que na verdade não sei qual o problema em chamar um preto de preto. Esse é o nome da cor não é? Eu sou um ser humano da cor branca. O japonês da cor amarela. O índio da cor vermelha. O africano da cor preta. Se querem igualdade deveriam assumir o termo "preto" pois esse é o nome da cor. Não fica destoante isso: "Branco, Amarelo, Vermelho, Negro"?. O Darth Vader pra mim é negro. Mas o Bill Cosby, Richard Pryor e Eddie Murphy que inspiram meu trabalho, não. Mas se gostam tanto assim do termo negro, ok, eu uso, não vejo problemas. No fim das contas, é só uma palavra. E embora o dicionário seja um dos livros mais vendidos do mundo, penso que palavras não definem muitas coisas e sim atitudes.
Digo isso porque a patrulha do politicamente correto é tão imbecil e superficial que tenho absoluta certeza que serei censurado se um dia escutarem eu dizer: "E aí seu PRETO, senta aqui e toma uma comigo!". Porém, se eu usar o tom correto e a postura certa ao dizer "Desculpe meu querido, mas já que é um afrodescendente, é melhor evitar sentar aqui. Mas eu arrumo uma outra mesa muito mais bonita pra você!" Sei que receberei elogios dessas mesmas pessoas; afinal eu usei os termos politicamente corretos e não a palavra "preto" ou "macaco", que são palavras tão horríveis.
Os politicamente corretos acham que são como o Superman, o cara dotado de dons superiores, que vai defender os fracos, oprimidos e impotentes. E acredite: isso é racismo, pois transmite a ideia de superioridade que essas pessoas sentem de si em relação aos seus "defendidos"
Agora peço que não sejam racistas comigo, por favor. Não é só porque eu sou branco que eu escravizei um preto. Eu juro que nunca fiz nada parecido com isso, nem mesmo em pensamento. Não tenham esse preconceito comigo. Na verdade, SOU ÍTALO-DESCENDENTE. ITALIANOS NÃO ESCRAVIZARAM AFRICANOS NO BRASIL. VIERAM PRA CÁ E, ASSIM COMO OS PRETOS, TRABALHARAM NA LAVOURA. A DIFERENÇA É QUE ESCRAVA ISAURA FEZ MAIS SUCESSO QUE TERRA NOSTRA.
Ok. O que acabei de dizer foi uma piada de mau gosto porque eu não disse nela como os pretos sofreram mais que os italianos. Ok. Eu sei que os negros sofreram mais que qualquer raça no Brasil. Foram chicoteados. Torturados. Foi algo tão desumano que só um ser humano seria capaz de fazer igual. Brancos caçaram negros como animais. Mas também os compraram de outros negros. Sim. Ser dono de escravo nunca foi privilégio caucasiano, e sim da sociedade dominante. Na África, uma tribo vencedora escravizava a outra e as vendia para os brancos sujos.
Lembra que eu disse que era ítalo-descendente? Então. Os italianos podem nunca ter escravizados os pretos, mas os romanos escravizaram os judeus. E eles já se vingaram de mim com juros e correção monetária, pois já fui escravo durante anos de um carnê das Casas Bahia.
Se é engraçado piada de gay e gordo, por que não é a de preto? Porque foram escravos no passado hoje são café com leite no mundo do humor? É isso? Eu posso fazer a piada com gay só porque seus ancestrais nunca foram escravos? Pense bem, talvez o gay na infância também tenha sofrido abusos de alguém mais velho com o chicote.
Se você acha que vai impor respeito me obrigando a usar o termo "negro" ou "afrodescendente" , tudo bem, eu posso fazer isso só pra agradar. Na minha cabeça, você será apenas preto e eu, branco, da mesma raça - a raça humana. E você nunca me verá por aí com uma camiseta escrita "100% humano", pois não tenho orgulho nenhum de ser dessa raça que discute coisas idiotas de uma forma superficial e discrimina o próprio irmão."

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O Inimigo do Povo

"Vós sois contra o povo, Ó meus escolhidos!" - Livro da Lei. (II AL, 25)

A voz do povo é a voz de Deus. Se este adágio popular possui alguma verdade, então o Satanista deveria pensar nove vezes antes de concordar com qualquer coisa que o povo fala. Na verdade este provérbio faz bastante sentido uma vez que 'povo' é justamente a palavra que usamos para falar de agrupamentos de pessoas sem identidade ou qualquer forma de força individual. Povo é o antônimo do Indivíduo. E se Satã é nosso símbolo de força individual, o povo é, por tabela, o Deus que escolhemos combater. Cuidado, não faço aqui uma defesa da abolição das regras sociais da boa convivência. Pois convivência é algo que acontece justamente entre indivíduos. Mas observe o comportamento de uma pessoa inteligente dentro de um grupo qualquer. Ao mesmo tempo em que ela desaparece em meio a multidão, passa a ser, por ela, condicionada. A coletividade possui a estranha propriedade de aumentar a auto-confiança de seus membros ao mesmo tempo que lhe tolhe a criatividade e a responsabilidade. Ao ser obliterado em uma sociedade, os vícios do indivíduo se intensificam ao passo que suas virtudes se diluem. Seus erros são ocultos e seus acertos perdem relevância. Cria-se uma política de nivelamento por baixo. 


A vontade do grupo se torna prioridade e assim, naturalmente, grupos rivais começam a surgir. Por isso não existe nenhuma classe de pessoas que não seja detestada por alguma outra classe, como cantou Marilyn Manson em seu Anti-Cristo Superstar: "todo mundo é o negro de alguém". Mas não é uma questão de cor:  Favelados, maconheiros, políticos, pagodeiros, crentes, maçons, judeus, vegetarianos, bichas, nazistas e adoradores de cachorros: Não é possível achar nenhum grupo que não tenha seu próprio "inimigo natural".  Por isso Socialismo significa guerra.  Capitalismo significa guerra. Cristianismo significa guerra. Não porque estas ideologias sejam especialmente beligerantes, mas porque são especialmente populares. As páginas de nossos  livros de história são contos de guerra e cada uma destas guerras só foi para frente porque indivíduos passaram a agir como multidões.

Citando Aleister Crowley em Magick sem lágrimas: "É peculiarmente notável que, quando uma classe é uma minoria governante, ela ganha ainda o desprezo e a agressividade de toda a multidão ao redor. No norte dos estados unidos, onde os brancos são a maioria, os negro podem viver na medida do possível como "pessoas normais". Já no sul, onde o medo é um fator importante, a lei de Linchamento prevalece.(Deveria? A razão para o "Não" é que esta é uma confissão de fraqueza). Mas no Norte, existe um forte sentimento contra outras classes: irlandeses,Italianos e judeus. Por que? Medo novamente. Os irlandeses dominam a política, os italianos o crime organizado e os judeus as finanças. Mas nenhuma destas fobias impede amizade entre indivíduos das várias classes hostis. [...] E por que as classes deveriam agir como classes? É óbvio: "União faz a Força". Os quinze piores jogadores de futebol dão um baile em um time adversário composto apenas pelo melhor jogador do mundo."

Por isso os líderes de todos os tempos sempre souberam lidar com seus súditos ou eleitores da maneira certa: tratando-os como gado e então colocando-se como o boiadeiro que sabe o que é melhor para a manada. A partir do momento em que as pessoas se escondem por trás da máscara da coletividade qualquer apelo à inteligência será fútil. A única forma de comunicação com as multidões é pelos instintos e qualidades animalescas.  Um bom líder não precisa de bons argumentos, precisa saber rugir como um leão. Escute os discursos de Hitler, por exemplo. Não é preciso saber uma palavra de alemão para entender como ele encantou a Alemanha. Da mesma forma, é sempre mais fácil incitar uma massa ao linchamento do que pedir para que ela analise um fato e tome uma decisão sadia.

Um grupo se torna um novo organismo e, como tal, acaba obedecendo algumas regras e leis. Grupos dominantes obviamente explorarão os grupos menores, mas isso não tem a ver com o tamanho ou a força do grupo. Um governo é composto de muito menos pessoas do que a sociedade que governam. O clero tem muito menos gente do que o grupo de fiéis. Em uma fazenda antiga o número de escravos era muito menor do que o número de gente que vivia na casa grande. Tem sido assim desde a aurora do homem. Mas atualmente vivemos uma época de defesa das minorias. Uma época em que quotas e políticas afirmativas tentam amenizar os problemas causados pela coletividade, só que a voz do povo acaba, como sempre faz, enfiando os pés pelas mãos, acabam reforçando-os. Isso é o equivalente a dar um pirulito para a criança que acabou de sair do dentista. É tão gentil quanto inútil. Mais do que isso, trata-se de uma atitude danosa pois reafirma a posição de dominados das classes ao mesmo tempo que reforça a ilusão de que elas existem enquanto grupos e não como indivíduos. Pense que você tem um filho que precisa de uma operação séria, e descobre que em determinado hospital quem fará a cirurgia acabou se se formar e melhor ainda, se formou não porque tirou boas notas, mas porque conseguiu uma vaga por causa de um sistema de cotas. Como ficaria sua confiança no cirurgião?

Os defensores destas causas fariam um considerável bem a si mesmos se perceberem que dentro de todo grupo explorado existem indivíduos explorados pelo grupo. E não é o indivíduo a menor de todas as minorias? 
Quem não quiser ser controlado deve garantir a sobrevivência da própria individualidade e negar o direito de existência em seu microcosmo de qualquer rótulo, consciência de classe ou identidade de massas. Há uma diferença sutil, mas poderosa entre dizer que "Concorda com as teorias de Marx" e se dizer um "Marxista", entre dizer que torce para o Corinthians e ser um "Corinthiano", entre dizer que o Nazismo possuía pontos positivos e ser um "Nazista". Você pode ouvir heavy metal sem ser um metaleiro. Rótulos passam a ilusão de estabilidade, mas qualquer grupo de ideias que não passa constantemente pelo crivo do questionamento é uma grande ofensa ao nosso Eu Superior e uma enorme barreira contra a Verdadeira Vontade.

O satanista é portanto o grande inimigo do povo. Ele sabe que existe uma diferença entre 200 macacos que dormem juntos para se aquecer e um único macaco que sabe fazer fogo. De fato a união faz a força, mas uma força que não possui um objetivo além da própria sobrevivência, é como a força do vento: poderosa, talvez invencível, mas implorando para ser aproveitada por quem sabe velejar. Crowley não estava errado quando afirmou que os servos servirão, mas não porque algumas pessoas tem uma natureza escrava, e sim porque todo grupo precisa ser direcionado. E isso apenas pode ocorrer com um indivíduo no controle, mas onde está o indivíduo dentro de um grupo? Esta grande ironia é tratada com o humor que merece pelo lema original da Church of Satan "It's an organization for non-joiners.”

Claro que vivemos em um mundo onde o povo é astucioso. A propaganda é a arma do negócio e uma das grandes artimanhas do mundo atual é mostrar que não importa o tamanho do grupo que você faça parte, você ainda pode gastar como indivíduo. Assim, cada propaganda é feita para mostrar que mesmo que você seja apenas mais um dentre um milhão, você é único, desde que consuma o que vendem para o grupo que você faz parte. Desta forma para ser 'jovem' você deve consumir as músicas X e beber o refrigerante Y. Para ser um homem 'bem sucedido' deve dirigir o carro X e vestir a roupa Y.

Assim, mesmo que o título de " Satanista"  possa ser visto apenas como mais um rótulo ele é melhor forma de se desvincular de outras imagens que podem ser capitalizadas em prol do Grande Todo. O Satanismo é a melhor forma que encontramos para descrever esta posição. Mas a partir do momento que ele começa a feder a certeza, merece ser jogado no lixo da vala comum da ignorância. O satanista é o inimigo publico número 1. É o inimigo do povo, pois o 'povo' quer que ele sacrifique sua vida individual no altar da coletividade e assuma para si os medos e preconceitos do grupo. Ouça a voz de deus: ela quer que você morra. Satanistas não pertencem a nenhum grupo. Especialmente não pertencem a nenhum grupo de satanistas.  Se todos os homens derem as mãos é como se todos estivessem algemados.

 Texto Morbitvs Vividvs

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A Pipoca

por  Rubem Alves

A transformação do milho duro em pipoca macia, é símbolo da grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser.

O milho de pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho de pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer. Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.

Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa, egoístas, insensíveis a dor do próximo, prepotentes, anti éticas, não tem um gesto de solidariedade. Só elas não percebem. Acham que seu jeito, é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida lança numa situação que nunca imaginamos. Pode ser o fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder o emprego, ficar pobre. Pode ser o fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão, sofrimento cujas causas ignoramos.

Há sempre o recurso do remédio. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pensa que a sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente.

Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo que ela é capaz. Ai, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece completamente diferente, de uma forma linda que ela mesma nunca havia sonhado.

Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o seu jeito de ser. A sua prepotência, presunção e egoísmo, são a dura casca que não estoura. O destino delas é triste. Ficarão duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminando o estouro alegre de pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo...nunca vão desabrochar em flor!!!

E você, o que é? Uma pipoca ou um piruá?